Houve um tempo, não muito distante, em que as cervejas IPA (India Pale Ale) extremamente amargas dominavam o cenário cervejeiro artesanal. Cada lançamento buscava superar o anterior em amargor, com níveis de IBU (Unidade Internacional de Amargor) alcançando alturas vertiginosas.
Essa tendência, que uma vez parecia inabalável, ofereceu aos entusiastas da cerveja uma jornada intensa e inesquecível. Hoje, refletimos sobre essa onda que, embora tenha perdido força, deixou um legado duradouro.
O auge da amargura
No auge dessa tendência, as cervejarias competiam para criar a IPA mais amarga do mercado. Bares e festivais celebravam essas criações, e os aficionados por cerveja se maravilhavam com a intensidade dessas experiências gustativas. Era uma era de exploração audaciosa dos limites do lúpulo.
Durante este período, a unidade de medida conhecida como IBU (International Bitterness Units) tornou-se um ponto de orgulho e um indicador de destaque para muitas cervejarias. Quanto maior o número de IBUs, mais amarga a cerveja, e cervejarias de todo o mundo competiam para superar uns aos outros, criando cervejas com níveis de amargor sem precedentes.
Os aficionados por cerveja se maravilhavam com a intensidade dessas experiências gustativas, muitas vezes buscando a próxima cerveja que empurraria ainda mais os limites do que era considerado possível em termos de amargor. A busca pela IPA mais amarga tornou-se não apenas um desafio para os cervejeiros, mas também uma jornada de descoberta para os consumidores, que expandiam constantemente seus paladares e suas percepções sobre o sabor da cerveja.
Nos Estados Unidos, são exemplos dessa tendência a Stone Brewing, com sua Ruination IPA, a Dogfish Head e sua 120 Minutes IPA e a Russian River e a Pliny the Younger. No Brasil, tivemos exemplos como a Seasons com a Holy Cow, a Cervejaria Invicta com a sua 1000 IBU e a Dogma com a Rizoma.
Mudanças no paladar
Com o tempo, contudo, notou-se uma mudança gradual nos paladares e preferências dos consumidores. A busca por equilíbrio, complexidade e novidade começou a superar o desejo por amargor extremo. As cervejas começaram a evoluir para estilos mais suaves, aromáticos e experimentais, abrindo caminho para NEIPAs (New England IPAs), cervejas sour e outras variações menos amargas.
A transição das preferências dos consumidores de cervejas extremamente amargas para estilos mais suaves e experimentais reflete uma busca contínua por novas experiências sensoriais. Essa mudança demonstra não apenas a versatilidade e a criatividade dos cervejeiros artesanais, mas também um amadurecimento do mercado de cervejas artesanais como um todo. À medida que os consumidores se tornam mais experimentais e abertos a novos sabores e estilos, a indústria cervejeira continua a evoluir, prometendo um futuro empolgante para os apreciadores de cerveja em todo o mundo.
O legado das IPAs extremamente amargas
Embora a tendência das IPAs extremamente amargas tenha se atenuado, seu impacto no mundo da cerveja artesanal é indelével. Ela empurrou os limites do que era possível e abriu as portas para uma era de inovação e experimentação sem precedentes.
Cervejeiros e consumidores aprenderam a apreciar a complexidade e a diversidade que o lúpulo pode oferecer, além do simples amargor. Cervejarias investiram em pesquisa e desenvolvimento, explorando novas variedades de lúpulo e técnicas de lupulagem para alcançar níveis mais altos de amargor sem comprometer o equilíbrio e o drinkability da cerveja. Além disso, a tendência estimulou discussões sobre a complexidade e a diversidade de sabores que o lúpulo pode trazer para a cerveja, além do simples amargor.
Olhando para o futuro
Hoje, enquanto olhamos para trás e refletimos sobre essa tendência, é com um senso de gratidão pela jornada que ela nos proporcionou. O mercado cervejeiro continua a evoluir, e estamos animados para ver quais novos estilos emergirão. O que permanece constante é nosso amor pela inovação, pela comunidade e pela arte de criar cervejas que desafiam e deliciam.