A Reforma Tributária tem sido um tema de destaque nas pautas das entidades cervejeiras nos últimos meses. Entre as propostas, destaca-se o Imposto Seletivo, popularmente conhecido como “Imposto do Pecado”, que visa taxar produtos considerados prejudiciais à saúde.
Organizações como Abracerva, Sindicerv e outras estão se mobilizando para assegurar melhores condições para o setor. A tributação não é um desafio recente para o setor, o impacto da carga tributária está diretamente ligado ao potencial de crescimento e expansão dos negócios cervejeiros, assim como a importância de um planejamento.
Filipe Bortolini, consultor de negócios da Beer Business, alerta que o escalonamento do regime tributário pode frear a expansão de um negócio. Por isso, além de acompanhar as mudanças, é fundamental que o empreendedor considere a carga tributária no planejamento estratégico da empresa.
“Tributação é sempre uma parte complexa. Para quem está começando, o Simples Nacional é a melhor opção, ele reduz consideravelmente a carga tributária e torna o negócio viável para novos empreendedores”, explica Bortolini.
Mas qual é X da questão quando falamos em crescimento dos negócios?
Segundo Bortolini, o Simples tem um principal problema: o limite de faturamento. O teto deste regime é de 4,8 milhões de reais por ano. Quando uma cervejaria ou um Brewpub começa a crescer este valor começa a se tornar um fator impeditivo.
“Parece um valor alto, mas este faturamento por ano é alcançado quando o negócio começa a expandir. Nós já trabalhamos com clientes que tiveram que controlar o aumento do faturamento para que não passasse do limite do Simples. Então isso é algo curioso porque acaba mantendo a empresa em um patamar”, relata.
Ele ainda explica que isso acontece porque quando você sai do Simples, o próximo passo é o Lucro Presumido ou Lucro Real. “Nestes regimes o salto da carga tributária é muito grande. Então não tem uma ‘escadinha’, um escalonamento. Quando a empresa chega nesse patamar ela já tem que estar vendendo muito mais para dar conta”, afirma.
A tributação não é o único desafio para a consolidação e expansão dos negócios
O Anuário das cervejarias do Ministério da Agricultura e Pecuária apontou que houve um crescimento de 6,8% de cervejarias de 2022 para 2023. Há uma certa estagnação relacionada à taxa de crescimento do mercado em relação aos anos anteriores, mas desde 2008 os números de cervejarias registradas crescem no país.
Alexandre Flores é analista de sistemas, mestre em Computação e sócio fundador da Beerpass, startup especializada em autosserviço de chopp. Flores tem trabalhado com o atendimento a negócios cervejeiros há pelo menos 10 anos. Há 7 trabalha diretamente em contato com empreendedores e negócios através da tecnologia, acompanhando a operacionalização de cervejarias, bares, restaurantes e brewpubs. Durante esses anos, percebeu que a estratégia é um fator essencial para os negócios seguirem adiante, entretanto, é muitas vezes negligenciada.
“A gente percebe que existem alguns fatores de limitação de expansão dos negócios cervejeiros, tanto em bares como cervejarias. Entre eles está, claro, a carga tributária e as dificuldades de mercado, custos, competitividade. Mas muitas vezes falta um plano de negócios, uma estratégia bem definida”, relata Flores.
Um plano de negócio é um documento que vai delinear os objetivos da empresa. “Este plano precisa prever também as possibilidades de expansão e qual o caminho que o empreendedor vai querer seguir. Por exemplo, se ele vai abrir uma cervejaria ele pode querer abrir sua própria rede de bares, expandir para pontos de venda e trabalhar apenas como fornecedor ou até se tornar uma franquia. A partir disso ele terá que pensar formas de viabilizar o seu negócio”, explica Flores.
Modelo de negócio e resiliência
Com um olhar atento às oportunidades e modelo de negócio consolidado, a Bier Haus em Rancho Queimado se estabelece no coração da cidade. Desde 2003, Alessandro Almeida, atual proprietário da Bier Haus, já frequentava Rancho Queimado, cidade de Santa Catarina que fica a 65 km de Florianópolis. “Me apaixonei pela cidade, pelo clima, pela paisagem, pela tranquilidade que é a cidade e frequentava muito a praça”, relata.
Frequentador assíduo da charmosa praça central, a Praça Leonardo Sell, também conhecida como praça coberta, Alessandro sentia que o local tinha um grande potencial para a inovação e experiência.
Ele conta que o desejo de abrir um bar sempre existiu, mas quando surgiu a oportunidade da licitação na praça coberta em Rancho Queimado, as coisas se aliaram e deram certo. “Claro que um processo de licitação tem todas as suas regras, então tivemos que adaptar nosso projeto com a ideia de trazer o atendimento com autosserviço de chopp, com o layout que a prefeitura queria para praça”, relata.
Sobre empreender, consolidar um negócio e desenvolver estratégias, Alessandro fala que existem alguns fatores que são importantes. “Um ponto bem localizado, o tamanho adequado que você espera para atender seu público, ter um aporte financeiro para começar e conseguir se estabilizar, investimento em marketing, mídias e na sua marca. O fato é que o empresário tem que ter resiliência, persistência e muita dedicação porque cada negócio é um negócio e tem um timing certo para acontecer”, compartilha.
Um dos caminhos para consolidar e expandir negócios está na otimização de processos, no qual, para Alexandre, a tecnologia será uma forte aliada. “O empreendedor precisa estar atento ao mercado e às inovações. As soluções de tecnologia, sejam os sistemas de gestão, PDV, autosserviço e outros, são formas de otimizar processos e potencializar o negócio reduzindo esforços operacionais e permitindo o crescimento”, analisa.
Já, frente às mudanças tributárias que estão por vir, Bortolini concorda que o caminho é formular um plano de negócios. “Nenhum negócio deveria começar sem um plano bem estruturado, que inclua análise financeira, avaliação de volume de vendas e custos. Dessa forma, é possível identificar e resolver problemas enquanto ainda estão no papel. Assim, caso algo comprometa a sustentabilidade do projeto, é possível ajustar, revisar a estratégia e decidir a melhor forma de avançar”, afirma.
Ele ainda explica que, apesar das incertezas relacionadas a esse período, em que as regras de tributação ainda não estão totalmente definidas, é crucial incluir essa fase de transição na análise do modelo de negócio, bem como simular possíveis cenários após a implementação da reforma.